O uso de termelétricas, que poluem mais e geram energia mais cara, para evitar um apagão em meio a crise hídrica gerou um gasto maior com geração de energia no Brasil. Esse gasto é repassado para consumidores, o que deve fazer com que a conta de luz fique mais cara até 2025, pelo menos.
As termelétricas irão custar cerca de R$ 13,1 bilhões até novembro, segundo previsões do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Além desse valor, que já aumenta as taxas da conta de luz, o governo prepara para outubro um novo leilão, que deve aumentar a participação da fonte de energia na matriz brasileira.
O governo acionou todas as usinas termelétricas em maio para evitar o racionamento. Na época a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) tinha colocado em prática a bandeira tarifária vermelha 1. Com essa mudança, o consumidor pagava uma taxa de R$ 4,16 para cada 100 quilowatts-hora consumidos.
No fim de agosto, a Aneel anunciou a chamada “bandeira escassez hídrica”, no valor de R$ 14,20 por 100 kWh. É quase 50% a mais que o do patamar 2 da bandeira vermelha que estava em vigor, de R$ 9,49.
Segundo a decisão da Aneel, a bandeira ficará em vigor até 30 de abril de 2022. Mas o ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) já afirmou que não há previsão de quando a crise irá terminar.
O leilão que o governo pretende realizar em outubro pode fazer o custo das termelétricas ficar ainda mais caro. Segundo as regras estipuladas para a compra de energia, serão pagos até R$ 750 por MWh (megawatt-hora) para termelétricas movidas a gás e até R$ 1.000 por MWh de usinas de óleo diesel e óleo combustível.
O preço indicado, segundo o próprio Ministério de Minas e Energia, é maior que os praticados anteriormente. A justificativa, segundo a pasta, são os “prazos desafiadores” para a entrega da energia contratada. A entrega seria de maio de 2022 a dezembro de 2025. Eis a íntegra da portaria que dita as regras do leilão (351 KB).
O ministério espera que os valores mais atrativos permitam maior competição e, assim, ofertas atrativas sejam apresentadas. Ainda assim, a continuidade do uso das termelétricas pressiona a conta de luz porque a geração de energia por meio dessas usinas é mais cara do que a hidrelétricas.
Atualmente, o Brasil enfrenta a pior crise hídrica dos últimos 91 anos. Os reservatórios continuam baixando e no Sudeste e Centro-Oeste, que concentram 70% de toda a água do país, o nível médio dos reservatórios é inferior a 20%. Para funcionar, reservatórios de água de usinas hidrelétricas devem operar com, pelo menos, 10% da sua capacidade.
O período úmido, de dezembro a fevereiro, não deve ajudar muito. O ONS prevê que em abril o nível de reservatórios pode ir a 24%, pior marca para o mês desde o início da série histórica, que começou em 2000.
A previsão, para a ONS, fortalece a necessidade de continuar utilizando as termelétricas. O diretor-geral do órgão, Luiz Carlos Ciocchi, já afirmou que essa será a recomendação do ONS, mesmo com uma melhora de cenário para poder ter uma reserva de energia.
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