Seja bem-vindo
Carangola,17/05/2025

  • A +
  • A -
Publicidade

Jornalista Alex Ferreira

Fazer perguntas para IAs pode evaporar água suficiente para abastecer cidades; governo quer atrair data centers com isenção de impostos

“Enquanto alimentamos máquinas com energia e dados, há crianças que sequer têm água para sobreviver. O futuro digital não pode secar o presente humano.”


Fazer perguntas para IAs pode evaporar água suficiente para abastecer cidades; governo quer atrair data centers com isenção de impostos Foto/Imagem:

IA, água e impostos: o custo invisível da inteligência artificial que pode secar cidades

Por Alex Ferreira
Jornalista e Publicitário

Enquanto o mundo se deslumbra com os avanços da inteligência artificial generativa, como o ChatGPT e outros sistemas similares, um custo silencioso começa a emergir: o impacto ambiental e hídrico do uso massivo de data centers. O que poucos sabem é que fazer perguntas para IAs pode consumir água suficiente para abastecer comunidades inteiras. E agora, em uma manobra para se tornar atrativo para gigantes do setor tecnológico, o governo brasileiro estuda conceder isenções fiscais massivas para atrair data centers internacionais.

A água invisível da IA

Estudo recente da Universidade da Califórnia em Riverside revelou que cada 20 a 50 perguntas feitas a sistemas de IA pode consumir meio litro de água — considerando o ciclo completo de energia e resfriamento de servidores. O mecanismo por trás disso é simples: os data centers, que processam bilhões de operações por segundo, aquecem a níveis extremos e precisam ser constantemente resfriados, muitas vezes com sistemas de refrigeração evaporativa, que consomem grandes volumes de água.

Em 2022, somente a Microsoft, que mantém parcerias com a OpenAI, consumiu mais de 700 milhões de litros de água para manter seus servidores operando — o suficiente para abastecer uma cidade de médio porte por meses.

Brasil abre as portas (e os reservatórios)

De olho na corrida da transformação digital, governos estaduais e municipais estão oferecendo isenção de impostos como IPTU, ICMS e ISS para atrair os chamados "parques tecnológicos". Em São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal, projetos de lei já tramitam para conceder benefícios fiscais a empresas como Amazon, Google, Microsoft e Oracle.

Mas há um problema central: essas estruturas consomem recursos naturais sem precedentes e empregam muito pouco.

“Um data center de R$ 1 bilhão pode empregar menos de 50 pessoas diretamente”, explica o economista e ambientalista Cláudio Almeida. “E o que fica para o município? Uma conta alta de água, impactos ambientais e pouca circulação de riqueza local.”

O paradoxo da inovação

A promessa de “cidades inteligentes” e “governos digitais” esconde uma lógica questionável: subsidiar multinacionais com recursos públicos e naturais, sem contrapartidas garantidas. A ausência de uma legislação federal que regule o uso hídrico e energético dos data centers levanta alertas entre especialistas.

“Estamos entregando a infraestrutura básica — água, solo, energia e renúncia fiscal — para empresas que nem sempre deixam legado tangível”, diz a engenheira ambiental Joana Lopes, da ONG Observatório das Tecnologias Sustentáveis.

Sociedade à margem das decisões

Em diversas regiões do país, projetos de instalação de data centers têm avançado com incentivos públicos e isenções fiscais, muitas vezes sem qualquer processo transparente de consulta à sociedade civil. Especialistas alertam para a ausência de estudos robustos de impacto ambiental, especialmente em áreas que já enfrentam escassez hídrica.

“O que vemos é um modelo de desenvolvimento que ignora o direito da população de ser ouvida e coloca recursos naturais sob risco em nome de uma modernização excludente”, afirma uma conselheira ambiental ouvida pela reportagem.

E agora?

A discussão que o Brasil precisa enfrentar é: vale a pena trocar recursos vitais como água e solo por promessas de modernidade tecnológica? Como garantir que o progresso não vire mais um capítulo da exploração dos bens comuns em nome do lucro privado?

O que está em jogo:
• Água potável para populações vulneráveis.
• Soberania digital nacional.
• Equilíbrio fiscal dos municípios.
• Sustentabilidade ecológica de longo prazo.

Em tempos de mudanças climáticas, escassez hídrica e crise fiscal, cada megabyte processado tem um custo que vai muito além do que aparece na tela.

Parecer Crítico — Instalação de Data Centers com Isenções Fiscais e Consumo de Recursos Naturais

1. Introdução

A proposta de atração de data centers mediante isenções fiscais e uso intensivo de recursos naturais como água e energia elétrica exige análise sob os prismas jurídico, ambiental, econômico e social. Embora o argumento do “progresso tecnológico” seja sedutor, ele não pode se sobrepor aos princípios constitucionais da função social da propriedade, da dignidade da pessoa humana e da sustentabilidade.

2. Fundamentos jurídicos relevantes

📌 Constituição Federal:
• Art. 225: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (...).”
• Art. 170, VI: A ordem econômica deverá observar o princípio da defesa do meio ambiente.
• Art. 37: Princípio da legalidade, moralidade e eficiência da administração pública.
• Art. 165-169: Normas sobre renúncia de receitas e necessidade de estimativa de impacto orçamentário e compensação.

3. Pontos críticos

a) Renúncia fiscal sem transparência
A concessão de benefícios fiscais deve ser acompanhada de:
• Estudo de impacto orçamentário.
• Justificativa técnica da vantagem competitiva.
• Avaliação de retorno à sociedade.
Na ausência desses elementos, há vício de legalidade e possível improbidade administrativa, conforme já interpretado pelo TCU e STF em casos semelhantes.

b) Uso abusivo de recursos naturais
A instalação de data centers em regiões com restrição hídrica ou baixa capacidade de compensação hídrica configura conflito socioambiental e pode ser caracterizado como:
• Violação ao princípio da precaução.
• Incompatibilidade com políticas públicas de saneamento e recursos hídricos (Lei 9.433/97).

c) Baixo retorno econômico-social
É inaceitável subsidiar empreendimentos de alta tecnologia e capital intensivo, que oferecem:
• Baixo número de empregos diretos.
• Alta externalidade negativa (uso de água, emissão de carbono, ruído, lixo eletrônico).

Foto/Imagem: "Água para quem?"
Por:
Alex Ferreira - Produzido através de IA

Enquanto servidores digitais brilham ao fundo, um menino descalço bebe a última gota de um balde quase seco. A paisagem é árida, mas não por natureza — é escolha. Nesta imagem, o progresso tecnológico revela seu custo oculto: a sede dos esquecidos.



COMENTÁRIOS

LEIA TAMBÉM

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.