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Carangola,20/05/2025

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A pior eleição às esquerdas portuguesas desde a Revolução dos Cravos

jovempan.com.br
A pior eleição às esquerdas portuguesas desde a Revolução dos Cravos


A crise instaurada no governo de Luís Montenegro foi obra de sua própria falta de transparência. Negócios obscuros envolvendo a família do primeiro-ministro, trouxeram desconfiança popular e a perda de um voto de confiança no parlamento. Em meio a derrota na Assembleia, novas eleições foram chamadas mais uma vez. Os portugueses voltaram às urnas pela terceira vez em três anos e as mudanças de 2022 até hoje foram extremamente complexas. Se Antônio Costa, atual presidente do Conselho Europeu, governou com facilidade o biênio de 2022 a 2024 como líder do Partido Socialista, hoje, a principal voz da esquerda portuguesa repensa os rumos de suas estratégias políticas. No caso de Montenegro e quase todas as legendas da direita, as eleições antecipadas foram razão de grande comemoração.


Em países de sistema parlamentarista, eleições antecipadas, nas quais o incumbente concorre, funcionam como um referendo de popularidade do atual governo. A regra informal do sistema diz que, caso vença, o incumbente ganha maior respaldo popular e governa de forma mais altiva, caso perca, chama a si a responsabilidade da derrota e renuncia à liderança partidária. Para Luís Montenegro, a noite foi de alívio ao saber que apesar das explicações ainda devidas ao povo português, suas políticas colocadas em prática nos últimos 15 meses agradaram não apenas os seus eleitores de 2024.


A Aliança Democrática, coligação partidária de centro-direita conseguiu 89 cadeiras das 230 em disputa dentro da Assembleia da República, ampliando em pelo menos 9 assentos, a configuração das últimas eleições. Apesar de não alcançar a maioria necessária para governar sozinho, Montenegro não deverá encontrar entraves legislativos que o impeçam de aprovar o orçamento e governar, mesmo que de forma minoritária. 


Ao olharmos para a outra metade da assembleia, as esquerdas viram a pior performance desde a Revolução dos Cravos. O Partido Socialista, da centro-esquerda, viu suas intenções de voto definharem em bastiões históricos da legenda. A região do Alentejo, reduto desse e de outros partidos progressistas, viu seus concelhos mudando de cor rapidamente, entregando um resultado que será amargo de se digerir, mas essencial para se repensar o futuro.


O PS que se superou nas projeções em 2024 e quase chegou à paridade com a AD, neste novo pleito de 2025, perdeu 20 assentos e empatou numericamente com o Chega, sigla de ultradireita. Pedro Nuno Santos, Secretário-Geral do partido, reconheceu sua responsabilidade frente ao pior resultado dos socialistas em quase 40 anos e renunciou ao cargo. A liderança do partido deverá apontar não apenas para novas faces, mas para novas estratégias que viabilizem a principal voz da esquerda portuguesa renascer. 


O partido de esquerda identitária, Bloco de Esquerda, que outrora já compôs governo em Portugal, hoje praticamente desapareceu, conquistando apenas 1 cadeira no parlamento. A CDU, com a presença do Partido Comunista Português, conseguiu resistir aos sismos e perdeu apenas um assento. A única voz da esquerda que teve razões para comemorar foi o partido Livre, de vertente progressista e ambientalista, que conseguiu mais dois assentos. De qualquer maneira desde a democratização de Portugal, foi o pior resultado das Esquerdas, alcançando apenas 32,61% do voto popular em 2025. O peso desta performance negativa, mais de 50 anos após o 25 de Abril, é sentido por 3 gerações de portugueses que agora deverão na autocrítica encontrar forças pare construir uma sólida oposição.


Mesmo sem vencer, a ultradireita liderada por André Ventura, alcançou o seu melhor resultado de sempre. Nascido como um partido anti-establishment e com pautas nacionalistas, o Chega deixou de ser apenas uma legenda caricata e se tornou uma das três maiores vozes políticas do país. O uso intenso das mídias sociais e as falas muitas vezes carregadas de xenofobia, impulsionaram o partido, sobretudo no Algarve e no Alentejo, a vencer múltiplos concelhos e alcançar um quarto das cadeiras do parlamento. A grande pergunta feita pelos analistas portugueses é se o Chega alcançou o seu máximo, dada a sua alta popularidade, mas também alta rejeição, ou se tornará mais lapidado e palatável no próximo pleito a ponto de ser o partido vencedor de eleições legislativas.


Aquilo que se observa desde e eleição norte-americana que elegeu mais uma vez Donald Trump, são fortes ventos provenientes à direita no hemisfério Norte. Muitos atribuem as vitórias recentes na Alemanha e até mesmo Portugal, a um sábio rearranjo das Direitas, e por mais que os partidos tenham seus méritos nas estratégias adotadas, a enorme dificuldade da Esquerda em se comunicar e fazer política no século XXI, tem sido a principal razão para os resultados recentes.


Em um mundo dinâmico, onde o eleitor médio se informa por memes e pelo TikTok, falar a língua das redes é essencial para qualquer político ou qualquer partido com pretensões nacionais. Ao mesmo tempo, as necessidades básicas da classe média foram esquecidas por muitos dos governos populares, enquanto incumbentes, e os trabalhadores, sobrecarregados com impostos crescentes e aluguéis impagáveis, sentem-se traídos por aqueles que sempre prometeram os defender. As agendas ecológicas e identitárias, outrora adjacentes nas agendas progressistas, tornaram-se a principal face das Esquerdas, enquanto nos escritórios, nas indústrias e nas lavouras, torna-se cada vez mais desafiador estar em dia com as contas.


As legislativas em Portugal em maio, mostram as mesmas coisas que as legislativas alemãs em fevereiro e as gerais americanas em 2024, a forma de se fazer política na terceira década do terceiro milênio precisa ser atualizada pelas Esquerdas, assim como as prioridades precisam ser outras em tempos de guerra e de crise. Talvez o exercício tão doloroso da autocrítica não aconteça tão cedo, mas é fundamental para que a pluralidade de ideias tão crucial para democracias saudáveis continue a existir. 2025 e 2026 nos darão novos exemplos, novos testes de como fazer campanha e como vencer eleições. O importante é saber se os partidos da mesma linha ideológica aprenderão com os erros e os acertos de seus pares do outro lado do mundo.








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