Polícia encontrou na casa do suspeito, no Barro Preto, uma prensa, balança de precisão, peneira, colheres e drogas
Prensa, peneira, colheres e balança de precisão. Bastavam esses simples equipamentos para criar uma engenhoca capaz de transformar substâncias químicas em ecstasy em um apartamento da região Centro-Sul de BH. A descoberta lança um alerta às forças de segurança. A fabricação caseira de drogas sintéticas em minilaboratórios é o novo desafio a ser enfrentado na guerra contra o tráfico.
Segundo a Polícia Civil, essa foi a primeira vez que um esquema do tipo foi desarticulado no Estado. Normalmente, o material é importado da Europa por bandidos. Na capital, o crime era cometido por um jovem de 27 anos no Barro Preto, em um imóvel próximo ao Fórum Lafayette. O entorpecente doméstico tinha até marca e era o mais vendido em festas noturnas da cidade.
Ao contrário da maconha cultivada em casa – que tem forte odor e demanda espaço para guardar a planta –, a produção dos comprimidos pode ser feita em pequenos imóveis e praticamente não deixa rastros.
Chefe do Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc), o delegado Júlio Wilke afirma que encontrar laboratórios caseiros requer tempo e intenso trabalho investigativo. Dentre as estratégias, está o cerco a revendedores. Mas contar com a ajuda de vizinhos, que podem fazer denúncias, é fundamental.
“Não à toa, tivemos um ano de investigação do traficante que estamos apresentando. Mas há pistas que podem nos ajudar. O traficante de droga sintética costuma identificar o próprio produto, numa espécie de fidelização do cliente. E os vizinhos podem suspeitar ao ver movimentações estranhas de pessoas que sempre entram e saem de uma casa próxima”.
Coordenador do Grupo de Estudos sobre Segurança Pública da PUC Minas, Luiz Flávio Sapori reforça o tamanho do desafio, já que essa é uma “novidade”.
“A Polícia Civil deve seguir nesta estratégia de sufocamento dos laboratórios, prendendo esses pequenos produtores, caso eles sejam descobertos. Não há, por aqui, outras estratégias que possam ser usadas, pois os casos são isolados. É um caminho difícil”, diz.
O crime
Só em 2018, cerca de 10 mil comprimidos de ecstasy com um logotipo alusivo ao personagem Justiceiro, da Marvel, foram apreendidos durante operações. A polícia chegou ao suspeito de 27 anos a partir dessas investigações. O homem já tem passagens por tráfico de drogas e está com a prisão preventiva decretada.
Estimativas da Polícia Civil dão conta de que o rapaz faturava até R$ 50 mil por mês. “(A droga) era vendida em raves e festas noturnas”, diz o investigador da corporação, Gabriel de Jesus.
Segundo o ele, o traficante não tinha formação universitária. “É uma pessoa muito astuta”, acrescentou. Os trabalhos agora visam a identificar se esse é um caso isolado ou se há uma rede de criminosos atuando no território mineiro.
Maconha
No ano passado, a polícia prendeu um estudante de química da UFMG. O jovem de 30 anos oferecia um tipo de maconha especial, conhecida como “Vanilla Kush”, e fazia as vendas pela internet. A droga era modificada pelo traficante, que usava os conhecimentos científicos para “agregar valor” ao produto.
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