Manifestantes realizam protesto contra o PL da Devastação em São Paulo



A principal pauta que motivou o protesto foi a aprovação, no Senado Federal, na penúltima semana de maio, do Projeto de Lei (PL) 2.159/2021, que estabelece um novo marco legal para o licenciamento ambiental no Brasil. O texto, que tramitou durante mais de duas décadas no Congresso Nacional, foi aprovado na Casa com 54 votos favoráveis e 13 contrários, e acende um alerta vermelho para ambientalistas pelo fato de relaxar regras em diversos cenários.
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No protesto da capital paulista, manifestantes caminhavam agitando bandeiras com frases como "Não tem planeta B" e sob o som de palavras de ordem a exemplo de "Eu nunca vi, eu quero ver a reforma agrária no Brasil acontecer". Em um dos discursos, uma das líderes participantes do ato afirmou que "não há mais o que fazer senão parar o aquecimento global".
Outra liderança lembrou a tragédia desencadeada por conta das operações da empresa Braskem em Maceió e o papel do agronegócio, enfatizado por ela como "totalmente destrutivo, irresponsável e ligado à maior bancada do Congresso Nacional". A Braskem levou diversos bairros da capital alagoana ao limite, provocando sua evacuação, como resultado da extração de sal-gema nesses locais, caso grave que gerou grande repercussão e a criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) no Senado.
Para a covereadora Nathalia Santana, integrante da bancada feminista, o texto, que ficou conhecido como PL da Devastação, pelas consequências que é capaz de provocar, evidencia o negacionismo climático presente no Senado e na Câmara dos Deputados.
"O PL vai colocar em risco todas as populações urbanas e rurais, incluindo populações indígenas, quilombolas. É importante destacar a zona urbana no debate sobre a proposta para a gente conseguir popularizar a pauta ambiental e conectar a devastação com a vida real das pessoas", afirmou.
Uma pesquisa recente mostra que a principal forma de as pessoas confirmarem as mudanças climáticas é a observação de seu impacto no dia a dia.
"Porque significa que as favelas vão ficar mais quentes, a gente vai ter os nossos territórios e a nossa água contaminados, vai ter mais escassez hídrica nas favelas. Então, a gente precisa falar na linguagem do povo, sem palavras academicistas e que estão na boca dessa luta ambientalista que, por muitas vezes, acaba sendo classista e branca, não colocando a perspectiva de gênero, classe e raça no debate", complementou Nathalia Santana, que é engenheira ambiental e negra.
"A marcha é um grito de urgência não só pelo futuro como pelo presente", sintetizou ao microfone a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP).
A aposentada e ativista Sol Teixeira, que atua hoje nas articulações do Movimento Nacional pelo Fim da Exportação de Animais Vivos, chama a atenção para a exploração de animais, elemento que faz parte do agronegócio, e para a necessidade de os direitos dos animais também serem tratado com seriedade, assim como os direitos humanos.
Para ilustrar a tortura a que se sujeitam bovinos, ela ressalta os que são enviados ao exterior e são submetidos a choques elétricos e outras formas de controle pela dor, ficando confinados em embarcações, em situação insalubre e cruel. Muitos deles, menciona, sofrem fraturas, feridas infeccionadas e sobrevivem, até chegar ao destino, em meio a fezes, enquanto outros não resistem e morrem no percurso.
"Na verdade, quem enriquece? Os pecuaristas, um grupo muito pequeno. E, se a gente for fazendo todo um desdobramento, os pastos, a monocultura, o veneno [agrotóxicos], a gente chega à devastação."
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