Alex Ferreira
Editorial compara 1889 e 2025: da República ao rombo do INSS. Proclamação da República vira ironia diante da corrupção.
No aniversário da Proclamação, o Brasil encara rombos bilionários e a falência moral da Previdência
Da República à Reprovação: 136 anos de silêncio cúmplice
Do grito de liberdade em 1889 ao escárnio institucional em 2025
No mesmo 15 de novembro em que o Brasil proclamou sua liberdade, hoje proclamamos nossa impotência. Bilhões evaporam como centavos, enquanto a justiça se curva diante do poder e a democracia se arrasta como um fantasma de si mesma. O contraste entre 1889 e 2025 não é apenas cronológico: é moral, estrutural e simbólico. O país que nasceu sob o ideal de soberania popular parece ter se transformado em refém de uma aristocracia moderna — não de sangue azul, mas de carteiras recheadas e cargos vitalícios.
Comparativo cruel e intelectual
1889: proclamava-se a República, um ato de ruptura contra a monarquia, em nome da liberdade e da soberania popular.
2025: proclamamos escândalos, rombos bilionários e decisões judiciais que parecem proteger os poderosos e punir os frágeis.
Crueldade histórica: o mesmo país que nasceu republicano sob o ideal de igualdade hoje se vê refém de uma elite política e econômica que perpetua privilégios.
Intelectualidade ácida: a República foi um grito de emancipação; agora, é um sussurro abafado pela burocracia e pela corrupção.
O que antes era promessa de cidadania plena, hoje é caricatura de uma democracia que prende professoras por batom e solta ladrões por bilhões. A ironia histórica é que o Brasil se libertou de reis para se ajoelhar diante de corruptos.
O escárnio do INSS
Se há um crime que ultrapassa a fronteira da política e invade o terreno da moral, é o rombo do INSS. Em 2025, o déficit da Previdência cresceu 60% em menos de uma década. Projeções oficiais indicam que o buraco pode quadruplicar nos próximos 75 anos, impulsionado pelo envelhecimento da população e pela queda nos nascimentos.
Os velhos, que deveriam colher o descanso da vida, são transformados em vítimas de um Estado que devora sua própria base. O maior escárnio não é apenas desviar dinheiro, mas desviar dignidade. É transformar aposentadorias em miragens, enquanto os corruptos brindam com o futuro de quem já não tem forças para lutar.
Memória e ironia republicana
A verdadeira proclamação que ecoa neste 15 de novembro não é a da República, mas a da ironia. O Brasil não precisa de mais independência; precisa de memória, coragem e vergonha. Precisamos lembrar que a República nasceu como promessa de igualdade e cidadania, mas foi sequestrada por interesses privados e pela lógica da impunidade.
O déficit previdenciário não é apenas uma questão contábil: é o retrato mais cruel da falência moral e institucional do Brasil. Ele completa essa barbárie como o golpe final contra os mais vulneráveis, transformando o envelhecer em um ato de resistência.
Editorial
O Brasil de 2025 é um país que se acostumou ao escárnio. A corrupção deixou de ser exceção e passou a ser regra; a indignação deixou de ser grito e virou silêncio cúmplice. A República, que deveria ser o espaço da cidadania, tornou-se palco da desigualdade.
Se quisermos honrar o 15 de novembro, não basta lembrar os militares que derrubaram a monarquia. É preciso derrubar a monarquia invisível que ainda governa: a dos privilégios, da impunidade e da indiferença. O Brasil precisa devolver aos seus idosos o que lhes foi roubado: não apenas o dinheiro, mas o direito de envelhecer com dignidade.
O rombo do INSS em 2025 é um dos maiores símbolos da falência moral e estrutural do sistema brasileiro. O déficit cresceu 60% nos últimos nove anos e já preocupa especialistas como uma “bomba que não vai parar de explodir”. Estimativas oficiais apontam que, com o envelhecimento da população, o buraco previdenciário pode quadruplicar nas próximas décadas.
A República foi proclamada em 1889 como promessa de liberdade. Em 2025, proclamamos a necessidade urgente de memória, coragem e vergonha. Só assim poderemos transformar a ironia em esperança e devolver ao povo brasileiro o que lhe foi negado: cidadania plena e dignidade.
O Brasil não fracassou por decreto, mas por inércia. A cada escândalo tolerado, a cada privilégio mantido, a cada silêncio cúmplice, a República se desgasta. O país que se libertou de reis precisa se libertar do hábito de normalizar o inaceitável. Reformas não são inimigas da dignidade — são seus instrumentos. Sem coragem política e ética consequente, a conta continuará chegando ao idoso que fez tudo certo e ao trabalhador que não pode se dar ao luxo de desistir. Que 15 de novembro não seja apenas memória, mas compromisso.
Alex Ferreira
Jornalista e Publicitário
Fontes: INSS; especialistas em finanças públicas; análises independentes sobre Previdência e democracia




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