Sindicato e vereador divulgaram violência psicológica sofrida por médica dias antes de ela morrer

Corpo de médica morta após passar mal ao denunciar violência psicológica é enterrado
O Sindicato de Médicos de Minas Gerais e o vereador de Belo Horizonte Bruno Pedralva (PT) haviam divulgado nas redes sociais o caso de violência psicológica sofrida pela médica de saúde da família Maggy Lopes da Costa dias antes de ela morrer.
A profissional, que atuava no Centro de Saúde Ventosa, em Belo Horizonte, morreu na última sexta-feira (19), depois de ficar dias internada. Ela passou mal em uma reunião no começo da semana, na qual estava denunciando sofrer ameaças, violência psicológica e difamação nas redes sociais.
A médica precisou deixar a reunião enquanto o encontro ainda acontecia e teve uma parada cardiorrespiratória. Ela chegou a ser reanimada, mas precisou ficar internada.
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Ao fim da reunião, o vereador Bruno Pedralva gravou um vídeo ao lado do diretor de Campanhas do sindicato dos médicos, Samuel Pires de Moraes Teixeira. Ambos participavam da reunião junto de Maggy.
A conversa foi agendada para que profissionais de saúde relatassem os casos de violência que vêm sofrendo nos atendimentos.
Pedralva contou que Maggy relatou que foi exposta "em reuniões da comunidade até por assessores de outros vereadores" de forma "antiética e ilegal, inadequada".
Segundo colegas da médica, ela começou a sofrer pressão depois de se recusar a emitir um laudo de autismo para o filho de um paciente. Ela havia explicado que essa avaliação só pode ser feita por uma equipe multiprofissional.
"A gente estava numa roda dialogando com profissionais, e uma dessas profissionais, muito querida, a doutora Meggy, [é] uma das que estava [relatando que] sendo vítima de exposição pública e violência psicológica, a partir de exposição em reuniões públicas e também nas redes sociais questionando as s condutas dela", disse o vereador na gravação.
O diretor de Campanhas do sindicato complementou a fala do parlamentar. "O sindicato lamenta, porque alguns profissionais foram vítimas de violência no exercício de sua função. Isso é inadmissível. Nós repudiamos e pedimos a todos que orem pela Maggy", afirmou Samuel Teixeira, após contar que a médica havia sido levada para o hospital por ter passado mal.
Médica Maggy Lopes da Costa, de 66 anos, morta após passar mal em reunião que denunciava ameaças sofridas por profissionais da saúde em Belo Horizonte
Arquivo pessoal
Enterro de Maggy
O corpo de Maggy, que tinha 66 anos, foi enterrado neste sábado (20) no Cemitério Bosque da Esperança, em Belo Horizonte.
Maggy atuava no Sistema Único de Saúde (SUS) de BH desde 2007. Nos últimos 12 anos, trabalhava na unidade do bairro Ventosa. Querida por colegas e pacientes, a médica de saúde da família era reconhecida pela dedicação à profissão.
"Ela foi ofendida na sua honra profissional e pessoal por um líder comunitário, embora essa profissional estivesse atuando de forma correta - ela não teria condições de fazer o que tinha sido solicitado", afirmou o presidente do Sindicato dos Médicos de MG, André Cristiano dos Santos.
Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte lamentou a morte da profissional, disse se solidarizar com familiares e amigos e destacou que mantém ações de apoio psicológico a trabalhadores da rede.
Sindicato aponta cenário de violência na saúde
Representantes do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais afirmam que o caso evidencia o cenário de violência crescente contra profissionais da saúde em Belo Horizonte.
Apenas entre janeiro e junho deste ano, foram registradas mais de 600 ocorrências em unidades da rede municipal, uma média de três casos por dia, segundo o sindicato. Houve episódios de violência verbal, psicológica, patrimonial, física e até de assédio sexual.
A categoria também critica a proposta da Prefeitura de Belo Horizonte de retirar guardas municipais dos postos de saúde. Para o sindicato, a medida enfraquece a segurança e deixa unidades ainda mais vulneráveis.
Aumentaram os casos de violência registrados em unidades de saúde de BH
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